From the beginning of March to mid-April 2023 I undertook an art residency at Prisma Estúdio, a non-profit cultural space and community, whose brief was to develop a project together with a curator in residence, Dela Christin Mießen and a Lisbon-based curatorial collective, Mais1. The initial premise was a concept, 'coexistence', and from there we started a journey where through the mapping, intertwining and synthesizing of the different understandings and concerns upon that own word each of us raised, we created a network of street-based artistic actions that were conveyed for Prisma through the exhibition [IN]COUNTER

[ I N ] C O U N T E R
On the conflicting dynamics of co-existence
`[ENG]
More than any other place, Martim Moniz and its surroundings embody the conflicted nature of Lisbon’s urban and human imaginaries. A typical day in the neighborhood can be both chaotic and diverse. Standing in the center of the square, you can see different cars strolling around you. All sorts of people pass through: from tourists queuing for tram no 28 to children playing football, skating, or just hanging out. Migrants from countries such as Pakistan, India, and Bangladesh are the main residents in the area. They run small businesses within and around the commercial centers. Most of them are local shops with electronic equipment, food, and clothes.
Martim Moniz Square thrives as an effervescent mixture of cultures and identities, localized and globalized at the same time. A realm of commerce and leisure, music and sounds emanating from every corner. Situated in close proximity to significantly gentrified areas like Anjos and Intendente, which have undergone drastic changes, Martim Moniz has yet managed to retain a distinctive character. One of the consequences of gentrification is that neighbors come and go at an accelerating dynamic. The locals’ imminent fear of one day being stripped out of their homes in order for more hotels, shops, and modern apartments to be built, generates an atmosphere of distrust and competitiveness.
The explicit efforts by the government to place the neighborhood within global flows of financial investment, tourism, and technological development have circulated increasingly amid its urban change. What we have here is the conflict of two imaginaries; one about social diversity, and another about tourism and investment flows. Focusing on the area of Martim Moniz and Mouraria, we intend to reflect on the intercultural coexistence of this densely populated area, showing how the urban and human landscape is progressively being defined and redefined, driven by factors such as gentrification and housing crises.
Based on the topic of “coexistence”, [IN]COUNTER dwells on the embedded ideas of confrontation and care that arise through encounters with the Other. By exploring private and public dimensions — intimate and expanded —, this project taps into individualization as an instinct of survival, and conviviality as a confrontation not only with others but also with ourselves.
Taking into account the diverse nature of the neighborhood, the exhibition displays a compendium of multimedia works developed and showcased inside Prisma Studios and its surrounding areas. As an alternative space to Lisbon’s cultural scene, Prisma’s ongoing work on community-making offers an ideal platform to delve into the social dynamics of the neighborhood embracing it. The presented works, therefore, offer an attempt to extend the neighborhood toward Prisma, and in turn, bring Prisma to the neighborhood. Audio recordings and sketches by Alina Shpakova, Elžbieta Upė Rozanovaitė, and Marta Dorin render a representation of the area’s status quo, and an apparent “reality” formed by our own perceptions, references, and projections; acting as an appropriation of sorts. Walking through this projected landscape, we are transported toward a version of Martim Moniz that is simultaneously personal and collective. Prisma turns into a window to the neighborhood, while at the same time creating a cultural space outside in the public. By contrast, Carmen Biorque’s work offers a symbolic approach to the process of relating to Others, and to our surroundings. Taking on the lotus plant as a metaphorical element, the artist creates Temporary Autonomous Zones (Hakim Bey, 1985) proposing spaces of freedom and imagination to be void of conflict. As proposed by Jaque Rancière through his concept communities of sense (2009), in a certain time-space frame, several patterns of visibility and intelligibility make up a system in which individuals might bond over aesthetic imaginery.
The lotus plant holds great spiritual symbology in Buddhism, Taoism, and Hinduism, portraying the notion of purity, beauty, enlightenment, and prosperity. Although of delicate and fragile appearance, the lotus plant raises from muddy waters and withstands all harassing phenomena with surprising resilience. Supported by posters gathering thoughts, experiences, and reflections of local residentsand bypassers by Dela Christin Mießen and Marta Dorin, this project is thus meant to serve as a token of both the cultural, social, and commercial exchange in Martim Moniz. On one hand, it portrays a metaphoric message of collective strength, sensibility, affection, and perseverance against adversities and, also, a sign of transformation, metamorphosis, and evolution. Simultaneously, it references the commercial identity of the neighborhood by utilizing “Lotus Root” boxes, a waste material from a food product that is traded in the area.
As part of an ongoing project, this exhibition conforms a first attempt to understand the area’s local dynamics through poetic and aesthetic registers, while proposing a reflection on how we all see the world through our own eyes, and the power held by imagination to construct, de-construct, and re-construct our own (better, or worse) realities.
Text by: Alexia Alexandropoulou, Carmen Bioque, Dela Christin Mießen, Inês Nêves
[ I N ] C O U N T E R
Sobre a dinâmica conflituosa da co-existência
`[PT]
Mais que qualquer outro lugar, o Martim Moniz e os seus arredores encarnam a natureza conflituosa dos imaginários urbanos e humanos de Lisboa. Um dia típico neste bairro pode ser simultaneamente caótico e diverso. Parados no centro da praça, podemos ver diferentes carros passar à nossa volta. Todos os tipos de pessoas transitam este lugar: desde turistas que fazem fila para o eléctrico nº28, até crianças que jogam futebol, andam de skate, ou simplesmente passam aqui o tempo livre. Migrantes de países como o Paquistão, Índia, e Bangladesh são os principais residentes da área. Dirigem pequenos negócios dentro e em torno dos centros comerciais. A maioria são lojas locais com equipamento electrónico, alimentos e vestuário.
A Praça de Martim Moniz prospera como uma mistura efervescente de culturas e identidades, localizada e globalizada ao mesmo tempo. Um universo de comércio e lazer, música e sons que emanam por cada canto. Situado na proximidade de áreas significativamente gentrificadas que sofreram mudanças drásticas como Anjos e Intendente, a Praça de Martim Moniz conseguiu ainda manter um carácter distintivo. Uma das consequências da gentrificação é que os vizinhos entram e saem a uma dinâmica acelerada. O medo iminente dos habitantes locais de serem um dia despojados das suas casas para que mais hotéis, lojas, e apartamentos modernos sejam construídos, gera uma atmosfera de desconfiança e competitividade.
Os explícitos esforços do governo para colocar este bairro dentro dos fluxos globais de investimento financeiro, turismo e desenvolvimento tecnológico difundem-se incrementalmente dentro da sua mudança urbana. O que resulta é o conflito entre dois imaginários; um sobre diversidade social, e outro sobre turismo e fluxos de investimento. Centrando-nos na área de Martim Moniz e Mouraria, pretendemos reflectir sobre a coexistência intercultural desta área densamente povoada, mostrando como a paisagem urbana e humana está progressivamente a ser definida e redefinida, impulsionada por factores como a gentrificação e a crise habitacional.
Com base no tema da "coexistência", [IN]COUNTER debruça-se sobre as ideias implícitas de confronto e cuidado que surgem através do encontro com o Outro. Ao explorar as dimensões privadas e públicas — íntimas e expandidas —, este projecto debruça-se sobre a individualização como um instinto de sobrevivência, e o convívio como um confronto não apenas com os outros, mas também connosco próprios.
Considerando a natureza diversificada do bairro, esta exposição apresenta um compêndio de obras multimédia desenvolvidas e expostas dentro dos Estúdios Prisma e da área envolvente. Como espaço alternativo à cena cultural de Lisboa, o trabalho dos Estúdios Prisma na criação de comunidade oferece a plataforma ideal para mergulharmos na dinâmica social do bairro que a abraça. Deste modo, os trabalhos aqui apresentados oferecem uma tentativa de extender o bairro para dentro dos Estúdios Prisma e, por sua vez, trazer Prisma para o bairro. As gravações de áudio e esboços por Alina Shpakova, Elzbieta Upė Rozanovaitė, e Marta Dorin representam o status quo da área, mostrando uma aparente "realidade" formada pelas nossas próprias percepções, referências, e projecções; actuando como uma espécie de apropriação. Caminhando por entre esta paisagem projectada, somos transportados para uma versão de Martim Moniz que é simultaneamente pessoal e colectiva. Prisma transforma-se numa janela para o bairro, criando ao mesmo tempo um espaço cultural no exterior público. Em contraste, o trabalho de Carmen Biorque oferece-nos uma abordagem simbólica ao processo de relação com os Outros, e com o nosso meio envolvente. Assumindo a planta de lótus como um elemento metafórico, a artista cria Zonas Autónomas Temporárias (Hakim Bey, 1985) propondo espaços de liberdade e imaginação isentos de conflito. Tal como proposto por Jaque Rancière através do seu conceito comunidades de sentido (2009), num determinado espaço temporal, vários padrões de visibilidade e inteligibilidade constituem um sistema em que os indivíduos se unem pelo imaginário estético.
A planta de lótus possui uma grande simbologia espiritual no budismo, taoísmo e hinduísmo, retratando a noção de pureza, beleza, iluminação e prosperidade. Embora de aparência delicada e frágil, a planta de lótus ergue-se de águas lamacentas e resiste a todos os fenómenos de ameaça com uma resiliência surpreendente. Apoiado por cartazes de Dela Christin Mießen e Marta Dorin que recolhem pensamentos, experiências, e reflexões dos residentes e transeuntes locais, este projecto serve assim como um símbolo do intercâmbio cultural, social e comercial de Martim Moniz. Por um lado, retrata uma mensagem metafórica de força colectiva, sensibilidade, afecto, e perseverança contra as adversidades e, também, um sinal de transformação, metamorfose, e evolução. Simultaneamente referencia a identidade comercial do bairro através da reutilização de caixas de "Raiz de Lótus", um material excedente deste produto alimentar que é comercializado na zona.
Como parte de um projecto em curso, esta exposição conforma uma primeira tentativa de compreender a dinâmica local da área através de registos poéticos e estéticos, ao mesmo tempo que propõe uma reflexão sobre como todos nós vemos o mundo através dos nossos próprios olhos, e o poder que a imaginação detém para construir, desconstruir e reconstruir as nossas próprias realidades (melhores, ou piores).
Texto por: Alexia Alexandropoulou, Carmen Bioque, Dela Christin Mießen, Inês Nêves


















